
Ainda hoje, durante a minha leitura matinal de blogues, tinha lido um
post relacionado com este tema. Umas horas depois, dei de caras com um site que promovia um livro dedicado a técnicas de espionagem de maridos/mulheres suspeitos de serem infiéis. «Espiar é uma forma de chegar à realidade dos factos. Espiar é uma tentativa honesta de encontrar uma solução para a relação do casal. Você quer saber a verdade. Sente que há alguma coisa de errado», dizia o site. Melhor ainda: «Aprenda as técnicas utilizadas por detectives profissionais e desmascare o seu parceiro infiel». E, para minha surpresa, as técnicas era algo tão sofisticado como instalar câmaras ocultas e escutas em casa e no carro (e de um modo pouco dispendioso, garantem), saber como obter provas de que o nosso parceiro tinha tido relações sexuais com outra pessoa, saber capturar palavras-passe e conversas via e-mail, reconhecer os deslizes que o/a infiel costuma cometer e aprender a detectá-los, entre muitos mais...
Primeiro ri-me, claro, é uma ideia completamente descabida. Mas depois fiquei preocupada. É possível que existam mesmo pessoas dispostas a passar por isto. É claro que, quando estamos desconfiados, todos nós já deitámos ou estivémos tentados a deitar, um olhinho a pelo menos uma SMS, a um e-mail, a uma conversa no MSN. É verdade que, várias vezes, quando há fumo, há fogo(!), mas será que justifica tamanha perda de tempo, tamanha ansiedade, tamanho desgaste?
Escutas? Perseguições? Luz negra? Para quê brincar aos detectives profissionais? Se queremos saber a verdade, porque não ir directamente à fonte e tentar saber? Conversar, dialogar, perguntar, analisar. Mesmo que nos acusem de sermos ciumentos ou de imaginarmos coisas, esse deve ser o nosso ponto de partida. E, no fim, alguma resposta ou reacção iremos ter. Se acreditarmos, tudo bem, não se fala mais nisso. Se não acreditarmos nela, se continuarmos com a angústia, o tal aperto no coração, de que vale estar numa relação assim? Estar com uma pessoa em quem não confiamos? Ou estar com uma pessoa que não nos faz sentir confiantes? Não é, de facto, uma boa aposta se queremos partilhar a nossa vida com alguém.
No site encontrava ainda uma (suposta) testemunha: «O meu marido tem-me tratado pessimamente de há uns tempos para cá e eu suspeitei que ele tinha uma amante. Encomendei os vossos manuais e, numa semana e meia, descobri tudo. Toda a minha vida fui dona de casa e, se eu consegui usar as técnicas, toda a gente consegue.» Portanto, aquilo que me ocorre é que só vale a pena deixá-lo porque ele tem uma amante, não porque ele a trata «pesssimamente». Ok.
Contas feitas, afinal só nos resta um bom momento de introspecção e definirmos aquilo que realmente queremos para nós próprios.